Olá, é uma honra poder contar com a sua visita aqui. Esses artigos trarão conteúdo em Mecânica dos Solos/Rochas e Engenharia Geotécnica, além de insights relacionados ao setor e sua respectiva sustentabilidade, responsabilidade social e inovação. Em nossa primeira postagem, apresentaremos artigo que traz a opinião do Eng. Samuel Lopes no ano de 1997 em publicação na revista Engenharia Técnica. É de se lamentar que tais práticas descritas na publicação que você lerá a seguir ainda são frequentemente observadas. Boa leitura!

E a nossa Engenharia dos Solos?

O presente trabalho tem como objetivo apresentar a opinião pessoal do autor quanto ao desempenho da engenharia dos solos na região metropolitana de Curitiba, analisando os problemas atuais na investigação do solo, nos projetos e execução de vários tipos de fundações e de sugerir providências para corrigir esses problemas, ressaltando sempre a importância do acompanhamento técnico, seja na fase executiva ou da obra acabada.

Quanto à investigação do solo

O ensaio mais realizado na região metropolitana de Curitiba e praticamente em todo o mundo é o SPT (Standard Penetration Test), que em nosso país é normalizado pela NBR 6484 (Execução de Sondagem de Simples Reconhecimento dos Solos Método de Ensaio) de 1980.

Este ensaio, quando bem executado, permite utilizar seus resultados na determinação da capacidade de carga da fundação, seja quanto à ruptura, ou quanto à recalques. Pode ser feito diretamente por meio da correlação entre carga de ruptura ou recalques e o índice de penetração “N”, ou indiretamente por meio da correlação entre o “N” e parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo que são levados às fórmulas clássicas da mecânica dos solos.

Mas, a meu ver, em função da aparente facilidade de “estruturar” uma empresa para desenvolver a prestação de serviço nesta atividade, passamos a ter um número enorme de empresas com equipamentos não padronizados, com sondadores, em geral, incompetentes e quando não desonestos.

Muitas destas empresas praticam preços de mercado muito abaixo dos necessários para custear uma sondagem dentro de critérios estabelecidos pela Norma Técnica. Caminhando assim em favor do detrimento da qualidade dos seus serviços, quase sempre executando a amostragem com energia diferente da exigida por norma de 474 Joule, algumas executando amostragem somente a cada dois metros de perfuração e criando as amostragens não executadas nos respectivos boletins. Fazendo classificação sem nenhuma preocupação de fornecer a quem vai utilizar as sondagens algo que exprima, na medida do possível, a realidade. Em muitos casos até o fornecimento de outros parâmetros como “T” (torque) sem seu respectivo ensaio, baseado somente na correlação com o “N” (número de golpes).

Embora reconheça que o problema não é somente na região em referência, isso não é, nenhum consolo.

E importante relatar que os valores obtidos nessas sondagens são base para o dimensionamento da fundação e de todos os projetos geotécnicos da obra.

O lado mais difícil da situação atual apresentada é, sem dúvida, quando relatamos a um cliente que a sondagem apresentada é duvidosa; a sua primeira reação é achar que temos interesse em alguma empresa específica e por isso criticamos o serviço de outras.

Como resolver este problema? Somente com a conscientização de todos os engenheiros consultores independentes ou ligados às empresas de geotecnia, divulgando a necessidade de uma sondagem dentro de critérios técnicos estabelecidos na Norma NBR 6484, e executadas por empresas sólidas no mercado, com sondadores treinados e responsáveis, com amostras sendo classificadas por profissionais competentes e interessados na qualidade de seus serviços e sempre revisando e analisando os perfis de sondagem antes do encaminhamento ao cliente.

Quanto à fundação direta

A solução de projetos geotécnicos com fundação direta em sapatas é usual na região metropolitana de Curitiba, mas observo que existe dois blocos distintos de projetos com esta solução:

O primeiro com bastante critério técnico. dimensionado por consultores de fundação, é baseado em parâmetros de resistência do solo, conhecidos através de investigações e ensaios. Estes projetos normalmente são indicados em obras com vários níveis de subsolo e com grandes cargas. Em função do conhecimento técnico de seu projetista, são dimensionadas para apresentar recalques diferenciais entre sapatas muito próximo de zero.

No segundo caso, a realidade é bem diferente, normalmente são projetos menores e com cargas pequenas, dimensionadas por profissionais sem o conhecimento dos parâmetros físicos do solo e o pior, com taxa admissível do solo variando muito de uma sapata para outra, por exemplo, tenho encontrado soluções geotécnicas que apresentam as mesmas dimensões de sapata, para cargas variando até em 15 vezes, ou sapatas assentadas em corte e outra estruturalmente ligada, assentadas em aterro com a mesma taxa admissível de projeto.

É evidente que estas soluções irão apresentar, quando da obra acabada, recalques diferenciais superiores a capacidade estrutural da obra, criando assim, trincas e situações indesejáveis.

Quanto a estacas moldadas “in loco”

Dos tipos de estacas moldadas “in loco” como solução de fundação em nossa região, a estaca tipo Strauss está praticamente descartada como solução viável, pois em função do solo da região em referência (formação Guabirotuba) ter basicamente características argilosas com consistência de muito mole a média e com o lençol freático próximo do nível do solo, a execução deste tipo de estaca fica comprometida tecnicamente.

Mesmo considerando que o uso de estacas tipo Strauss tem vantagens como: ausência de vibrações em prédios vizinhos, facilidade de locomoção na obra e outras vantagens executivas, o dimensionamento desta solução deverá ser realizado somente por profissionais especializados e com o conhecimento dos dados físicos do solo necessários para a determinação da interação desta estaca com o solo e da viabilidade executiva quanto a integridade do fuste após a estaca ser concretada.

A determinação deste tipo de fundação como solução de projeto somente deverá existir após analisar todas outras possibilidades, pois creio que esta não será a solução que melhor irá atender o binômio custo/técnica.

Outro tipo de estaca moldada “in loco”, muito usado em nossa região, é a estaca tipo escavada sem o uso de lama bentonítica (sem revestimento).

As estacas escavadas podem ser executadas com grandes equipamentos para perfuração de diâmetros acima de 40 centímetros e grandes profundidades ou com equipamentos adaptados com torre metálica acoplados em pequenos tratores, para perfuração de pequenos diâmetros e pequenas profundidades, que podem também ser executadas com perfuração manual.

A minha preocupação quanto ao dimensionamento das estacas escavadas de pequenos diâmetros é em relação à capacidade de carga adotada para cada estaca, pois tenho observado que a condicionante para o uso e determinação de carga nestas estacas é somente a possibilidade de execução, não considerando os parâmetros físicos do solo, tornando assim o projeto em alguns casos audacioso e em outros muito conservador.

A estaca escavada é, sem dúvida, uma boa solução em várias situações de projeto, mas deve sempre ser exigido o projeto da fundação com a responsabilidade técnica de execução e projeto antes do início da execução dos serviços, independente das dimensões da obra, e sempre que possível decidir por empresas tecnicamente saudáveis. Somente para registro, gostaria de relatar, que imagino o futuro das estacas concretadas “in loco” em nossa região com grande participação da estaca tipo Hélice Contínua, pois apresenta grandes vantagens em solo como o apresentado em nossa bacia sedimentar.

Quanto à estaca de deslocamento

A estaca de deslocamento mais utilizada na região metropolitana de Curitiba é a estaca cravada pré-moldada de concreto armado ou protendido. Esta é uma solução de fundação muito utilizada, principalmente em locais com dificuldade em manter a integridade do fuste, com presença de argila orgânicas (turfa) e ou com nível do lençol freático elevado.

Alguns itens técnicos e executivos devem ser considerados na contratação deste serviço, pois assim como a sondagem tipo SPT, existe um número grande de empresas cravando estacas em desacordo com a Norma Técnica. Empresas estas formadas por antigos funcionários ou até mesmos antigos motoristas de empresas de fundação, prestando este serviço sem o conhecimento da energia de cravação necessária para a execução dos serviços e sem o menor conhecimento técnico. Muitos serviços de cravação de estacas pré-moldadas são contratados somente tendo o orçamento como preocupação, antes ou sem o dimensionamento da fundação por um profissional especializado e conhecedor dos parâmetros físicos do solo e com capacidade de interpretá-los e traduzi-los em projetos coerentes.

Após ter acompanhado ou solicitado a complementar obras, executadas por estas empresas cravadoras de estaca “de fundo de quintal”, tenho condições de emitir uma opinião conclusiva: contratar estas empresas é válido somente para engenheiros executores que tenham um grande conhecimento em mecânica dos solos ou para profissionais que desconhecem totalmente a engenharia.

Conclusão

Temos grandes profissionais especializados na engenharia dos solos em nosso mercado, alguns independentes outros dentro do departamento técnicos de algumas empresas de fundações. O importante é que todos os projetos de mecânica dos solos devem ser assinados por um destes profissionais.

Mesmo que a execução do serviço de fundação seja executada por empresas práticas e sem conhecimento técnico, deverá existir um profissional conhecedor da engenharia dos solos, dimensionando a obra e fiscalizando os serviços, pois, se não houver a conscientização de todos, correremos riscos de executarmos obras com baixos coeficiente de segurança e grandes comprometimentos técnicos.

Deveremos também propor e cobrar dos clientes prova de carga como exigida por Norma Brasileira para melhor comprovação da capacidade de carga nas obras.

Somente com a investigação de solo bem executada, projetos bem dimensionados, obras executadas dentro de padrões técnicos exigidos por norma, empresas com acervo técnico em obras geotécnicas e com a eliminação de amadores é que elevaremos o nome de nossa engenharia, podendo assim responder que a nossa engenharia dos solos vai muito bem, obrigado.

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